Muito se tem falado nas últimas semanas sobre a indisciplina e a violência nas escolas. Acumulam-se opiniões, mais ou menos refletidas; somam-se horas de debates e reportagens nos meios de comunicação; esticam-se os dedos para apontar culpas e definem-se, com relativa facilidade, castigos revestidos de tanto formalismo que quase parece que estamos certos das causas e das consequências.
A Scholé é tão escola quanto qualquer escola. E por ser escola tem pessoas. Adultos, crianças, professores, orientadores, pais. Como em todas as escolas (e para ser realista, como em todas as casas) há dias em que as emoções estão alinhadas e outros em que são tão contraditórias que é difícil compreender-nos (quanto mais compreender o outro). Há dias em que as palavras são sentidas e pensadas e dias em que saem sem controlo, nem do cérebro nem do coração. Há dias em que nos vemos e dias em que fingimos não ver. Há dias em que nos damos a ver e dias em que queremos ser vistos. Há dias em que partilhamos tudo, até quem somos... e dias em que escolhemos ser Narcisos. Quando escolhemos ser escola, escolhemos princípios que nos ajudam a caminhar e a crescer. Escolhemos um modelo pedagógico que vive de três H´s (Head, Hands and Heart). Escolhemos a emoção como ponto de partida para o desafio. Escolhemos a relação como critério de sucesso para a aprendizagem. Escolhemos desenhar a aprendizagem começando sempre pelas atitudes, as competências e os valores que depois estruturam o conhecimento e o que faremos com ele. Muito se fala também sobre competências sócio-emocionais. A investigação é clara e inequívoca quando define a relação entre a emoção e a memória, entre processos cognitivos e afetivos... Construíram-se currículos, programas de intervenção e metas a cumprir. Mas voltamos a esquecer o elementar. Para que se cumpra efetivamente uma escola de emoções, uma escola em que a aprendizagem social e emocional potencia a compreensão e gestão das emoções, a capacidade de estabelecer e manter relações positivas com os outros e de usar as emoções nos processos de tomada de decisão, importa que o façamos todos - crianças e adultos. A relação é um dos pilares da Scholé. Este fim de semana, quando nos juntamos para conversar sobre avaliação, começamos por falar de relação. Mapeamos os laços que já construímos para sabermos onde estamos a investir, com quem estamos a falhar, a quem podemos tocar. Porque quando avaliarmos o nosso primeiro projeto de aprendizagem deste ano letivo temos de ser capazes de também avaliar a relação e o impacto que as emoções causaram no processo de crescimento de cada criança e da equipa que a acompanhou. Mas este exercício exige da escola, tempo e disponibilidade. Para permitir aos adultos que também aprendam a conhecer-se. Que saibam sentir-se e colocar as suas emoções ao serviço da relação. Que saibam pedir ajuda quando precisam. Que saibam oferecer ajuda quando a procuram. Que queiram preocupar-se. Que sintam que essa preocupação é recíproca. Que saibam parar, refletir, reconhecer os erros, definir caminhos alternativos. Que se sintam em segurança para falar de relações com a mesma certeza com que falam de frações. "... partilhamos com Teresa Estrela (2002, p. 48) a ideia de que “é mais fácil amar o aluno do que respeitá‑lo”. Amar, expressar sentimentos como a ternura, é algo de instintivo, espontâneo e imediato; mais difícil é respeitar, porque implica compreensão (revelação e doação mútua), ética (responsabilidade pelo “outro” em si e pelo futuro que se anuncia e nascerá dos seus projectos), capacidade de olhar o “outro” (o aluno) como pessoa e de nos olharmos a nós (professores) na interacção com ele (o aluno como um alter ego). Nas palavras sábias de George Steiner (2003, p. 15): “obviamente, as artes e os actos do ensino são dialécticos, no sentido próprio deste termo tão abusivamente utilizado. O Mestre aprende com o discípulo e é modificado por esta inter‑relação através de algo que, idealmente, se converte num processo de troca. O acto de dar torna‑se recíproco, como nos meandros do amor”. Amado, João; Freire, I.; Carvalho, Elsa & André, Maria João (2009). O lugar da afectividade na Relação Pedagógica. Contributos para a Formação de Professores. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 08, pp. 75-86 |
AutorScholé Histórico
February 2022
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